A resposta é: Depende
Depende para quem. Algumas pessoas podem ter intolerância outras alergias e já outras simplesmente serem sensíveis, terem uma sensibilidade ao tomarem ou consumirem algum de seus derivados.
As reações adversas aos alimentos envolvem qualquer reação anormal ocorrida durante ou após a sua ingestão, sendo classificadas em intolerâncias ou alergias alimentares.
A intolerância alimentar é uma resposta diferente a um aditivo ou alimento, sem que haja as intervenções imunológicas. “Estas podem ser ativadas por ação de toxinas produzidas por bactérias e fungos, agentes farmacológicos ou erros metabólicos por deficiência enzimática”.
Neste post iremos falar sobre alergia alimentar
Para que um alimento provoque reação alérgica em um ser, é necessário que proteínas ou outros antígenos sejam absorvidos pelo trato gastointestinal e interajam com o sistema imunológico para produzir uma resposta anormal.
O trato gastrointestinal (TG) é o único órgão onde existe uma convivência harmônica entre grande número de micro-organismos e o sistema imunológico, isso demonstra que existem mecanismos de defesa competentes no TG, pois constantemente ele recebe uma ampla quantidade de antígenos alimentares sem que ocorra um processo inflamatório que cause lesões, apenas alguns indivíduos desenvolvem alergia alimentar.
Embora teoricamente qualquer alimento possa causar alergia, existe uma grande gama de alérgenos alimentares que podem provocar reações adversas no organismo cerca de 80% das manifestações de alergia alimentar ocorre com a ingestão de leite de vaca, ovo, soja, trigo, amendoim, castanhas, peixes e crustáceos.
As reações alérgicas às proteínas do leite de vaca podem ser dividas em: mediadas por IgE, não mediadas IgE ou mistas.
A caseína e as proteínas do soro são as duas proteínas mais encontradas no leite de vaca, a caseína constitui cerca de 80% das proteínas totais.
Já no leite humano predominam as proteínas do soro, na proporção de 60-70%, da qual a digestão é mais simples em relação à caseína, que requer maior secreção de ácido clorídrico para adequar o pH do estômago e permitir sua digestão pela pepsina.
O leite de vaca contém cerca de 30-35g de proteínas por litro, as caseínas e as proteínas do soro representam cerca de 80% e 20% respectivamente do total de proteínas do leite de vaca.
A beta-caseina é a segunda proteína mais abundante no leite de vaca e constitui-se de 209 aminoácidos que se dividem em 13 variantes: A1, A2, A3, B, C, D, E, F, H1, H2, I e G. As variantes A1 e A2 são retratadas como sendo as mais frequentementes encontradas em vacas leiteiras.
As variantes A1 e A2 se diferenciam pela mudança de um nucleotídeo na posição 67 da cadeia, ainda que a diferença na estrutura pareça sutil, essas variantes são digeridas de forma diferente.
No processo de digestão para a beta-caseina A2 a hidrolise enzimática não ocorre, ou ocorre em uma taxa muito baixa gerando o peptídeo betacaseomorfina-9 (BCM-9), Já a digestão da variante A1 passa pelo processo de hidrólise, podendo produzir o peptídeo exógeno opioide chamado betacasomorfina-7 (BCM-7).
Acredita-se que a BCM-7 é um importante causador de problemas relacionados à saúde humana, estudos realizados relacionam a Beta-caseina A1 com problemas crônicos em pessoas pré-dispostas, que envolvem: Diabetes mellitus tipo 1, problemas coronarianos, desordens mentais e outras doenças autoimunes, também estão relacionadas a diversas alergias, intolerância ao leite e problemas intestinais.
Até o atual momento, crê-se que apenas os bovinos produzem essa variante A1, alguns trabalhos apresentam que as raças mais afetadas pela mutação do gene A1, são muito comuns na Europa, EUA e algumas partes do sul-asiático. A linhagem bovina com essa mutação é nativa da Europa, e os gados africanos e asiáticos não foram afetados por ela.
A base do tratamento dietético para a APLV é essencialmente nutricional e consiste na exclusão dos alergenos alimentares responsáveis pela reação alérgica, e a utilização de formulas ou dietas hipoalergênicas, em lactentes em situação de alergia alimentar.
Atualmente também temos no mercado algumas marcas que comercializam o leite proveniente de vacas com o genótipo a2a2. Podendo ser uma alternativa para pacientes com sensibilidade no sistema digestivo ao ingerir leite.
REFERÊNCIAS
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